Talvez. Talvez fosse o jeito dela, demasiado decidida a fazê-lo feliz. Ou o fogo dela, cuja chama ele não soubesse apagar, embora todo ele fosse água fria.
Eu acho que ele nunca soube... Ela disse, mas ele nunca entendeu a loucura, a tamanha loucura, que ardia dentro dela quando o via. Quiçá imaginasse mas não soubesse que ela não falava da boca para fora quando dizia que faria tudo por ele... Ela faria mesmo tudo por ele. Provavelmente, se solicitado, teria trocado a sua alma nos confins do inferno para assegurar que, mesmo sendo um corpo vazio, o partilharia com ele.
Desta vez não foi o "querê-lo porque ele não se quis dar", não foi o que chamam de "fruto proibido". Foi a luta interminável, incansável e intermitente contra a velocidade com que o seu sangue fluía, com que as suas pupilas dilatavam e com que a sua voz subia três décimas acima da sua rouquidão. Não foi o desejo. Foi ter perdido tempo a contar as cento e noventa e sete razões para desistir dele e acordar, todos os dias, a tentar concentrar-se em mais que as três ou quatro, que contou pelos dedos, para lutar.
Mas quem seria ela para julgá-lo? Seria hipocrisia da sua parte pesá-lo em prós e contras, quando sabia que, a lógica tem influência nula no amor. Quando sabia que o seu coração fica cheio sempre que ele aparece no radar. Quando não existem razões, nem sequer contexto, nem lugar para pensar nelas. Mas há tanto lugar para o que sobra.
Apesar de haver espaço físico de sobra entre eles, nunca haverá escassez espaço temporal, de chances de tomar o mundo como deles, de namorar o olhar um do outro mais de duzentas vezes por dia, de a deixar admirar a suprema arrogância dele, dois minutos e meio depois da sua efémera submissão.
Pergunta-se tantas vezes se partilham o mesmo tipo de demência, pois nada mais justificaria conseguirem, num pequeno segundo, odiar-se tantas vezes quanto se desejam.
Por mais que ela repita a si mesma que merece melhor e que, no próximo momento que tiver a atenção dele, o privará do seu sorriso, ela sabe que sucumbirá. O rosto fraqueja e as emoções fervilham, todo o seu corpo conspira a favor desta tentação, num culminar de erros tão bem disfarçados de escolhas certas, que a consciência lava muito antes de ela poder aproveitar.
Será que existe um ponto de quebra neste ciclo? Será que em algum momento um deles será capaz de parar, cada com o seu erro?
Se existem, de facto, almas gémeas, será que ela se enganou? Será que ele não quer aceitar que negue o que negar, ela nunca deixará de ser "ela", apesar de todos os defeitos com que ele a rotulou?
Será?
Talvez.
A eles,
Ritawilliams.
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